por Henry Uliano Quaresma
As exportações brasileiras desempenham um papel fundamental na economia do país, representando cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo uma das principais fontes de divisas. Em 2023, o valor total das exportações do Brasil atingiu US$ 335 bilhões, consolidando sua posição como um dos principais atores no comércio internacional de commodities, produtos agrícolas e minérios. O cenário global de exportações, no entanto, apresenta tanto oportunidades quanto desafios que devem influenciar o futuro das exportações brasileiras nos próximos anos.
Oportunidades em Mercados Emergentes
A China, o maior parceiro comercial do Brasil, respondeu por cerca de 31,3% de todas as exportações brasileiras em 2023, com destaque para produtos como soja, minério de ferro e carne bovina. O valor total das exportações para o mercado chinês somou US$ 91 bilhões. A crescente demanda por alimentos e matérias-primas no país asiático permanece um motor importante para o comércio brasileiro. Além disso, o comércio com outros países da Ásia, como Índia e Indonésia, tem potencial de crescimento, com previsões de expansão anual de 5% a 7%.
A Índia, em particular, já é um dos principais destinos das exportações brasileiras, movimentando US$ 12 bilhões em 2023. Com o crescimento populacional e econômico nessas regiões, a demanda por alimentos, energia e produtos industriais brasileiros deve continuar a crescer, fortalecendo os laços comerciais do Brasil com esses países.
Além dos mercados tradicionais, incluindo a América Latina, têm se tornado destinos cada vez mais estratégicos para as exportações brasileiras. Na América Latina, países como Argentina, Chile e Colômbia oferecem oportunidades crescentes para produtos brasileiros, especialmente em setores como alimentos, máquinas e veículos. A integração regional, impulsionada por acordos comerciais e proximidade geográfica, facilita o acesso a esses mercados. Na África, países como Nigéria, Egito e África do Sul estão ampliando sua capacidade de importação, criando oportunidades em setores como o agronegócio, produtos industriais e tecnologia. No Oriente Médio, países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos intensificaram suas importações de alimentos e energia do Brasil, refletindo o crescimento populacional e a busca por diversificação econômica. Esses mercados emergentes representam uma chance valiosa para o Brasil diversificar seus destinos de exportação, fortalecendo laços comerciais com parceiros estratégicos e expandindo sua atuação em regiões de alta demanda
Inovações no Agronegócio e Sustentabilidade
O agronegócio brasileiro, responsável por quase 50% das exportações do país, continua a se beneficiar de inovações tecnológicas e práticas sustentáveis. Em 2023, as exportações do agronegócio totalizaram US$ 159 bilhões, com a soja respondendo por aproximadamente 40% desse valor. A adoção de tecnologias como agricultura de precisão e práticas de sustentabilidade ambiental aumentou a produtividade do setor em cerca de 15% na última década, sem a necessidade de expandir significativamente as áreas cultivadas.
A sustentabilidade também está se tornando um diferencial importante. A demanda por produtos sustentáveis vem crescendo globalmente, e o Brasil pode se destacar como um fornecedor de alimentos e matérias-primas que atendem aos padrões internacionais. Iniciativas como certificações ambientais na carne bovina e em produtos agrícolas devem abrir portas para novos mercados, além de agregar valor aos produtos brasileiros.
Desafios no Cenário Internacional
Embora o Brasil tenha oportunidades, enfrenta também desafios expressivos. A dependência de commodities o deixa vulnerável à volatilidade dos preços internacionais. Por exemplo, em 2023, os preços do minério de ferro sofreram uma queda de cerca de 18%, o que afetou diretamente as exportações, que somaram US$ 47 bilhões no ano. Essas oscilações nos preços de commodities como petróleo, produtos agrícolas e minérios afetam o saldo da balança comercial, que registrou um superávit de US$ 62 bilhões em 2023, mas corre o risco de diminuição devido a essas variações.
Além disso, o cenário geopolítico global traz incertezas. A disputa comercial entre os Estados Unidos e a China tem gerado instabilidade no comércio internacional, e as pressões ambientais estão cada vez mais presentes nas negociações comerciais. A União Europeia, responsável por 14,4% das exportações brasileiras em 2023, com um total de US$ 48 bilhões, tem demonstrado crescente preocupação com questões ambientais, como o desmatamento da Amazônia. Caso o Brasil não apresente avanços claros em sua política ambiental, poderá enfrentar barreiras comerciais em mercados importantes. Portanto, um grande desafio para a diplomacia brasileira buscar uma solução.
A Busca pela Diversificação das Exportações
Para enfrentar esses desafios, o Brasil deve buscar uma maior diversificação de sua pauta exportadora. Atualmente, 62% das exportações do país estão concentradas em commodities como soja, minério de ferro e petróleo. Aumentar a participação de produtos de maior valor agregado é essencial para reduzir a vulnerabilidade da economia às oscilações dos preços de commodities.
O setor de tecnologia e inovação, ainda pequeno nas exportações brasileiras, representa uma área de grande potencial. Em 2023, as exportações de produtos industriais de alta tecnologia representaram apenas 6% do total, cerca de US$ 20 bilhões. Para que o Brasil possa competir nesse mercado, é necessário um aumento significativo nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, bem como na promoção de setores emergentes como biotecnologia e tecnologia da informação.
Outro setor promissor é o de biocombustíveis. O Brasil é o maior exportador mundial de etanol, com US$ 2,6 bilhões em exportações em 2023, principalmente para os Estados Unidos e Europa. Com o mundo em transição para uma economia de baixo carbono, o Brasil tem a chance de liderar o mercado de energias renováveis e consolidar suas exportações nesse setor.
As perspectivas para as exportações brasileiras são mistas, com uma combinação de oportunidades significativas e desafios consideráveis. O Brasil deve continuar a aproveitar suas vantagens competitivas em setores como o agronegócio e minérios, enquanto busca diversificar sua pauta exportadora e agregar valor aos seus produtos. A sustentabilidade e a inovação são pilares fundamentais para manter a relevância do país no cenário global.
Com foco em novos mercados, como os emergentes da Ásia, e no fortalecimento de práticas sustentáveis e tecnológicas, o Brasil poderá aumentar suas exportações de maneira mais resiliente e se posicionar como um ator-chave na economia global nos próximos anos.
Henry Uliano Quaresma é Fundador e CEO na Brasil Business Partners, Conselheiro na AEB em Desenvolvimento de Negócios e foi Diretor Executivo da Federação das Indústrias do Estado de SC – FIESC (1998-2014).
Texto originalmente publicado no LinkedIn em: https://www.linkedin.com/pulse/perspectivas-das-exporta%C3%A7%C3%B5es-brasileiras-e-desafios-uliano-quaresma-reusf/