O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo com 716,4 milhões de toneladas processadas na última safra, uma participação de 25%, alternando a posição com a Índia. E lidera as exportações globais no segmento sucroalcooleiro com 35,3 milhões de toneladas embarcadas, o que representa 50% das transações globais externas.
Somente neste ano de 2024, as exportações de açúcar de cana em bruto registraram mais de U$ 8,69 bilhões, o que representou um recorde histórico. Dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (UNICA) mostram que o Brasil produziu 46 milhões de toneladas no ciclo 23/24 nos estados de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. A região Centro-Sul participa com 91,3% deste total e os estados do Norte e Nordeste respondem pelos restantes 8,7%.
Na mesma safra, exportou 35,2 milhões de toneladas para 145 países, o que o mantém como principal player mundial com mais de 50% do comércio global, uma posição de destaque há três décadas.
A China é o principal destino com mais de 11% de participação. Na Ásia, também a Índia, a Indonésia e os Emirados Árabes Unidos são grandes importadores, da mesma forma que na África, o Egito, a Argélia e a Nigéria destacam-se com demanda crescente como forma de suprirem lacunas na produção local e pela competitividade do produto brasileiro.
Indústria madura e competitiva
“As condições socioeconômicas das sociedades africanas e asiáticas estão propiciando um maior consumo de alimentos per capita também impulsionado pelo crescimento populacional dessas regiões”, comenta o presidente doConselho de Administração da Associação dos Exportadores do Brasil (AEB), Arthur Pimentel (foto). Ele aponta entre as vantagens competitivas brasileiras o clima favorável, a tecnologia de cultivo e, apesar de tudo, a razoável infraestrutura de transporte, além da variedade de processos.
“Temos uma indústria madura que produz e vende com custo competitivo e que, por conta disso, consegue concorrer com outros mercados produtores”, explica, apesar de se tratar de uma das commodities mais sujeitas a medidas protecionistas nas transações internacionais, além de se caracterizar pela intensa regulamentação estatal nos mercados domésticos de países produtores e de consumidores.
Para a AEB, o futuro reserva excelente horizonte para o setor sucroalcooleiro que faz parte da história brasileira desde o século XVI tanto no âmbito social, quanto econômico e político. Entre outras oportunidades, o presidente da AEB cita a Tailândia como segundo maior exportador mundial de açúcar, depois do Brasil, por estar com problemas de comercialização e de desvio de negócios com a China. Países do Oriente Médio e do norte da África também experimentam crises de negociações e obstáculos de recuperação de safra. “O cenário internacional é promissor e o Brasil deve agir com inteligência para atrair investimentos estrangeiros e fixar sua posição como líder natural da segurança alimentar global”, finaliza, acrescentando que o preço do açúcar está em alta internacional.
Importadores quase exclusivos
Os continentes africano e asiático, aliás, são os principais compradores do açúcar brasileiro, ocupando as 10 primeiras posições no ranking. Somente depois deles vem o Canadá com uma participação de 3,98%.
Na análise de Mário Scangarelli (foto), diretor executivo da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), dificilmente o Brasil perderá o posto de principal produtor e exportador, já que o consumo mundial de China, Índia, Paquistão e da África subsaariana continuará aumentando e, portanto, precisando comprar o adoçante brasileiro.
“Com o fim da política de salvaguarda em 2017, que protegia a indústria açucareira chinesa, a China deve aumentar sua liderança como principal destino das exportações brasileiras, da mesma forma que a Indonésia, com seu crescimento populacional, e a Índia, por questões climáticas, focou no mercado interno e aumentou as compras do Brasil”, explica.
Açúcar com alta relevância na pauta
O Brasil se credencia a continuar na liderança graças à disponibilidade de áreas e à crescente produção nacional nos últimos cinco anos, passando de 32,1 milhões/ton em 20/21 para 46 milhões prevista na atual safra. Com estoques mundiais em queda, o preço também oscilou de forma favorável (US$ 290/ton para US$ 500, atualmente). “Estamos falando de números relevantes tanto em produção, que é 15,1% maior do que a safra anterior, quanto em valores financeiros, que girou em torno de US$ 15 bilhões, um acréscimo de 43%”, exemplifica Scangarelli.
Trata-se de um setor que gerou quase US$ 20 bilhões de divisas externas ao país no último ciclo 2023/2024. “Com esse resultado, o setor sucroenergético foi o terceiro da pauta exportadora brasileira do agronegócio, superado pela soja, carnes e produtos florestais”, aponta.
Ele observa, ainda, que três grupos brasileiros se destacam no ranking dos maiores exportadores com quase um terço da produção e exportação brasileira. A Copersucar lidera pelo terceiro ano seguido o ranking das empresas brasileiras através das suas 37 usinas cooperadas e que pertencem a 22 grupos econômicos. Mesmo com a perda de participação no mercado, ela totalizou 9,8%.
Em seguida vem o grupo RAIZEN, que já liderou em 2013 e 2020, com 9,2% do total exportado. Logo depois, aparece o grupo chinês COFCO com aproximadamente 8% de participação.
O desafio da sustentabilidade
Para o executivo da Cisbra, um dos grandes desafios é crescer com sustentabilidade buscando o cumprimento até dezembro deste ano da meta compulsória de descarbonização definida em 38,78 milhões de CBios, conforme a Resolução CNPE nº 6/2023. Dados da B3 até 08/04/2024 indicam que o setor de biocombustíveis já ofertou mais 50% da meta de CBios para 2024.
“Atualmente, estão certificadas no RenovaBio 280 unidades produtoras de etanol, quatro unidades de biometano e 39 unidades de biodiesel. A soma do volume comercializado por essas 323 empresas representa cerca de 90% da produção de biocombustível no Brasil e denota o comprometimento ininterrupto do setor com as metas de descarbonização assumidas pelo Brasil”, afirma Mário Scangarelli.
Fornecedor mundial
Martinho Seiiti Ono (foto), CEO da SCA Brasil,consultoria em inteligência de mercado e aquisição de insumos e serviços logísticos para empresas do agronegócio, afirma que o Brasil contacomalta eficiência nas áreas agrícola e industrial, o que garante ao açúcar brasileiro o menor custo de produção no mundo. Por conta desta vantagem, tende a ser o fornecedor natural das principais demandas de importação. “Corrigidas as distorções de mercado provocadas por subsídios governamentais que ocorreram há alguns anos, a tendência é que o produto brasileiro se consolide cada vez mais como a principal origem para abastecimento das demandas dos consumidores”, acredita ele.
No aspecto da logística para embarque do açúcar, apesar dos elevados custos de transporte terrestre e relativa limitação de estrutura portuária em geral, com competição com grãos em alguns períodos do ano, a capacidade de entrega de açúcar nos portos brasileiros tem sido suficiente para atender as demandas do mercado atual.
Para a safra 2025/26, o quadro pode ter alguma mudança. Para a SCA, é possível prever impactos em consequência da seca e incêndios, que podem ser atenuados com as chuvas na entressafra, porém ainda é muito cedo para fazer qualquer previsão de volume. O clima seco desde o início da safra, com muitas impurezas, estava dificultando a produção de açúcar e os incêndios em larga escala agravaram a situação, mediante o corte de cana queimada precoce, com maior índice de impurezas.
Em sua apresentação no 11º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, promovido pela ANDA, no final de agosto, Carlos Cogo, sócio diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, lembrou que a relação superávit de açúcar no mundo caiu, os preços subiram depois da pandemia e o Brasil está tendo margens excelentes na atividade com boas chances de continuar liderando este mercado.
Plano Safra no replantio
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) está formatando uma linha de crédito específica para o replantio da cana-de-açúcar a partir do levantamento dos prejuízos feito pela Secretaria de Política Agrícola (SPA). “Vamos remanejar o Plano Safra vigente, que tem bastante recursos disponíveis, para esta finalidade emergencial”, anunciou o ministro Carlos Fávaro, citando o caso de São Paulo, onde as lavouras que já tinham sido colhidas e estavam em fase vegetativa. Estimativa da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) indica que cerca de 80 mil hectares em áreas de cana-de-açúcar e de rebrota de cana já foram queimados.
Açúcar em números
Em 2023/24, foram 345 unidades produtoras em 1.200 municípios brasileiros em quase 10 milhões de hectares cultivados, que geraram US$ 19,8 bilhões em divisas externas envolvendo açúcar e etanol, o que dá ao setor sucroenergético o 3º lugar na pauta de exportação do agronegócio do Brasil, depois do complexo da soja, carnes e produtos florestais.
Via https://www.trendsce.com.br/