A recomendação feita pelo presidente americano, Joe Biden, para que a representante comercial dos Estados Unidos aumente para 25% a tarifa sobre o aço e o alumínio importados da China pode causar — caso seja implementada — um aumento das exportações desses produtos do país asiático para o Brasil.
Especialistas ouvidos pelo Valor, no entanto, acreditam que é possível que o governo brasileiro também acabe elevando as alíquotas para o aço e alumínio chineses, como forma de resguardar a indústria.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), a medida, caso implementada, vai causar a elevação da importação de aço chinês no Brasil. Ele crê que a saída será o aumento da tarifa brasileira, que hoje, na média, está abaixo de 10%, e vê espaço para que o governo implemente essa correção nas alíquotas.
Entre janeiro e março, o Brasil importou 1,298 milhão de toneladas de aço, o que representou, segundo dados do Instituto Aço Brasil, um aumento de 25,4% frente a igual período do ano passado. A maior parte desse volume vem da China.
“Vai aumentar o volume dentro do que já está crescendo”, diz Castro, sobre o efeito esperado no Brasil caso o aumento de tarifa seja implementado nos EUA.
Triangulação comercial
Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador associado do FGV Ibre, ressalta que, caso se repita o que aconteceu no passado recente, quando os EUA subiram as tarifas sobre produtos chineses, pode acontecer uma triangulação comercial. Ele explica que em 2018 e 2019, quando o governo americano elevou tarifas, diminuíram as importações americanas vindas da China, mas subiram na mesma proporção às compras a partir de países como o Vietnã, que até então não tinha tradição em exportar aqueles bens para os EUA.
Segundo ele, essa mudança na origem das exportações foi sendo percebida com o tempo e houve o aumento de tarifas bilaterais para outros países além da China para evitar que os produtos chineses fossem exportados a partir dessas nações.
“Mas, para o Brasil, o efeito é que a China vai tentar colocar aço em todos os lugares”, diz Ribeiro, que acrescenta que, no comércio exterior, “o primeiro tiro é seguido de outros diversos tiros”. “Vários países protegerão suas indústrias”, afirma.
Ele também acredita que o Brasil, caso se confirme o aumento das alíquotas por parte dos EUA, deverá elevar suas tarifas sobre o aço chinês. “Acaba sendo isso. Uma guerra comercial nunca acaba sendo só entre dois países”, pondera.
Por: Valor Econômico