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[Istoé Dinheiro] A encruzilhada da China

Por Jaqueline Mendes, Istoé em 20/05/2022

Fechamento de algumas das maiores cidades chinesas tem afetado a cadeia global de suprimentos e alimentado a alta de preços por todo o mundo.

A pandemia pode estar minimamente controlada, mas os reflexos econômicos da Covid-19 ainda se proliferam mundo afora, inclusive no Brasil. E um desses efeitos colaterais surge cada vez que a China, o pátio fabril do mundo, fecha as portas para se proteger do vírus. Com lockdowns rigorosos desde 1º de abril, a política Covid Zero implementada pelo governo de Xi Jinping determinou o fechamento de fábricas, cidades, portos e aeroportos. Resultado: desabastecimento da cadeia global de suprimentos e alta generalizada dos preços.

Imagem: Kevin Frayer

Os números confirmam esse tsunâmi inflacionário. Um levantamento da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) constatou que, em abril, os preços das importações em dólares subiram 34,4%, mas houve recuo de 6,9% em volume. Ou seja, quem consegue importar está pagando mais. A tendência para os próximos dois meses é de alta acima de 10%, com o prolongamento da guerra na Ucrânia e com o descompasso entre oferta e demanda. O presidente da AEB, José Augusto de Castro, disse que a inflação que vem de fora é mais uma adversididade que a indústria brasileira vive. “Os preços já tinham aumentado 29,5% em março.”

E se o lockdown chinês parece uma situação distante e preocupação apenas de empresários nas gôndolas, o consumidor também já paga o preço. Prova disso é que as famílias de renda mais baixa foram as que mais sentiram o aumento dos produtos nas prateleiras em abril. A alta de preços foi de 1,06%, contra um resultado de 1% na faixa de renda mais alta, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“Enquanto a elevação dos preços dos alimentos foi o principal fator de pressão inflacionária para as rendas mais baixas, para as mais altas os aumentos do grupo transporte pesou mais”, disse a economista Maria Andreia Parente Lameiras, autora da Carta de Conjuntura do Ipea.

No acumulado em 12 meses, a inflação percebida pelo grupo de renda muito baixa foi 17,6% maior do que a sentida pela alta renda, segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda. No grupo de renda muito baixa, a inflação acumulada nos 12 meses terminados em abril foi de 12,7%, enquanto que entre as famílias de renda alta essa variação foi de 10,8%.

E não há sinais de melhora em curto prazo. Para o economista Lívio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a combinação dos novos lockdowns na China com estragos provocados pela guerra entre Ucrânia e Rússia deve levar a um mundo com inflação mais elevada por mais tempo. “Se antes a gente tinha dúvidas de que o processo de reorganização das cadeias produtivas se completaria este ano, hoje parece muito improvável que isso ocorra.”

Para o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, a inflação global vai piorar antes de começar a melhorar. Isso porque, segundo ele, o déficit comercial da União Europeia (UE) é um sinal de alerta para a inflação global. “Como a Europa depende da importação de gás da Rússia, e não existe outra alternativa por enquanto, a tendência é um aumento de preços e isso leva a uma alta generalizada de preços”, afirmou. Com ou sem vírus, o lockdown na China segue contaminando de inflação do Brasil e do mundo.

Leia a matéria original em Istoé.

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