Desde a implementação das reformas de mercado em 1978, a China experimentou uma expansão econômica extraordinária, consolidando-se como a segunda maior economia do mundo. Com uma taxa de crescimento anual frequentemente acima de 6%, esse desenvolvimento foi impulsionado por investimentos robustos em infraestrutura, manufatura em larga escala, inovação tecnológica e uma política externa ativa.
A relação econômica entre o Brasil e a China destaca-se como uma das mais significativas no cenário internacional, caracterizada por um intenso fluxo de comércio e investimentos. A China é o principal parceiro comercial do Brasil, tanto em exportações quanto em importações.
Exportações Brasileiras para a China
Em 2023, o comércio bilateral entre Brasil e China atingiu cerca de US$ 157 bilhões, com as exportações brasileiras para a China somando US$ 104 bilhões, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Os principais produtos exportados incluem soja, que representa cerca de 31% do total, seguido por minério de ferro e petróleo bruto, ambos com 23%, além de carnes bovina, suína e de frango. O mercado chinês é crucial para o agronegócio brasileiro, absorvendo aproximadamente 60% das exportações totais de soja do Brasil. No entanto, essa dependência levanta preocupações relacionadas à volatilidade dos preços globais e à concentração em commodities, que são vulneráveis a flutuações econômicas e políticas internacionais.
Importações Brasileiras da China
As importações brasileiras da China também são expressivas, totalizando cerca de US$ 53 bilhões em 2023. Os produtos mais importados incluem eletrônicos, como telefones celulares e computadores, que juntos representam cerca de 25% das importações totais desse segmento. Equipamentos industriais e produtos químicos são também significativos, destacando a dependência brasileira de tecnologia e insumos industriais chineses. Esta relação traz desafios, incluindo a necessidade de garantir a qualidade e a conformidade dos produtos importados com as normas brasileiras, e o desenvolvimento de uma política industrial que proteja a produção nacional.
Investimentos Chineses no Brasil
Entre 2007 e 2022, empresas chinesas investiram US$ 71,6 bilhões no Brasil através de 235 projetos, conforme o Conselho Empresarial Brasil-China. Por setor, a eletricidade atraiu 35,7% dos investimentos, seguido pela indústria manufatureira (23,4%) e os setores de Tecnologia da Informação (13,2%), agricultura e serviços relacionados (6,4%), extração de petróleo (5,5%) e serviços financeiros (5,1%). Os investimentos estão concentrados em setores estratégicos, como energia, com empresas como State Grid e China Three Gorges destacando-se em projetos de transmissão de energia e geração hidrelétrica. O setor de infraestrutura também recebeu investimentos significativos, com a China investindo em grandes projetos logísticos fundamentais para a integração nacional e a exportação de commodities.
Recentemente, investimentos substanciais em mobilidade elétrica foram anunciados pela BYD. Apesar dos benefícios econômicos, alguns desses investimentos suscitam questões sobre soberania nacional e impacto ambiental.
Desafios e Perspectivas Futuras
Aprofundar a relação econômica entre Brasil e China exige atenção a desafios críticos, como a diversificação das exportações brasileiras, a redução da dependência de importações de produtos básicos e a gestão cuidadosa dos investimentos estrangeiros para maximizar benefícios enquanto se protegem interesses nacionais. Estratégias-chave incluem diversificar os produtos exportados para a China e buscar mercados alternativos para reduzir a dependência. Políticas que incentivem investimentos chineses em setores de alta tecnologia e inovação podem também auxiliar na modernização da indústria brasileira e promover o desenvolvimento sustentável. A relação Brasil-China é complexa e multifacetada,
oferecendo enormes benefícios econômicos, mas também apresentando desafios significativos. Para que essa parceria seja sustentável e benéfica a longo prazo, é essencial implementar estratégias que promovam a diversificação econômica e a inovação.
(*)Henry Uliano Quaresma
Henry Uliano Quaresma possui uma trajetória de mais de 25 anos nas áreas de Relações Institucionais, Negócios Internacionais e Industrial. Atualmente, é CEO da Brasil Business Partners e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais. Exerceu o cargo de Diretor Executivo na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), onde participou ou coordenou mais de 90 missões empresariais internacionais em mais de 50 países. Foi também professor universitário e atuou profissionalmente tanto no setor privado quanto no governamental. É engenheiro, com MBA em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa, possui especialização em Marketing pela FGV e concluiu Programas Executivos em Estratégia e Gestão pela Wharton School (EUA) e pela INSEAD (França). É autor de artigos e livros, destacando-se o livro “O Fator China e os Novos Negócios” (2021), obra consolidada como referência na área empresarial.
Por: Henry Uliano Quaresma / RCN