Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o governo brasileiro deve acompanhar a guerra comercial sem emitir parecer. Para ele, o “tarifaço” deve elevar a inflação mundial.
Por Alvaro Gribel
Impacto global e surpresa nas tarifas
BRASÍLIA – As tarifas de 25% dos Estados Unidos contra México e Canadá, que começam a vigorar neste sábado (1º), segundo a Casa Branca, surpreenderam o mundo, na visão de José Augusto de Castro, presidente da AEB. Para o especialista, os percentuais são muito elevados e vão aumentar diretamente a inflação americana, com efeitos sobre a economia mundial.
Por outro lado, ele entende que os 10% sobre os chineses ficaram abaixo do esperado, após meses de ameaças de Trump contra o país asiático. Para ele, a medida tem o objetivo de “assustar” os chineses e abrir negociações futuras, mas a elevação da barreira comercial sem acordos prévios pode dificultar as conversas.
Até a tarde deste sábado, Trump ainda não havia assinado uma ordem executiva para colocar as tarifas em vigor, mas poderá fazê-lo retroativamente.
Efeitos no Brasil e recomendação de cautela
Sobre o Brasil, Castro avalia que o país será atingido indiretamente, via aumento da inflação mundial e redirecionamento de produtos, principalmente da China, para o mercado brasileiro.
Ainda assim, por ora, o melhor que o governo brasileiro deve fazer, na sua visão, é se manter distante da briga e só adotar medidas de reciprocidade após atitudes concretas por parte dos EUA.
“O poder econômico americano é muito superior ao do Brasil, então não podemos querer medir força com os Estados Unidos”, disse.
Produtos impactados e efeitos na economia
A Casa Branca confirmou as tarifas contra México, Canadá e China prometidas por Trump.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
Apesar de Trump ter anunciado antecipadamente que tributaria exportações do México, do Canadá e da China, foi uma surpresa?
“Anunciar essas tarifas exatamente no início do mandato foi inesperado, principalmente para México e Canadá, que são parceiros do Acordo de Livre Comércio da América (Nafta). E 25% é uma alíquota muito elevada. No fundo, ele pode estar importando inflação. Já sobre os 10% da China, é uma surpresa pelo percentual baixo.
Para quem falava tanto que as relações com a China não eram das melhores, se imaginava que haveria uma tributação maior, principalmente por tipos de produtos. Até agora, estamos vendo uma tarifa relativamente baixa, alcançando praticamente todos os produtos.
Então, a surpresa são os percentuais, que fogem do previsto: 25% é muito alto, e os 10% são relativamente baixos. No início do mandato, não houve nenhuma tentativa de negociação. Simplesmente se impôs uma tarifa, o que vai dificultar negociações futuras.”
México e Canadá: alvos inesperados
México e Canadá sempre foram vistos como países que produzem para vender para os EUA. Por essa razão, todos os produtos são passíveis de serem tributados pelos EUA.
A base industrial do México e do Canadá é voltada para produzir e exportar para os EUA. Esta semana, também foi anunciado que Trump está taxando o petróleo do Canadá, uma matéria-prima essencial para os EUA, o que pode elevar os custos internos.
“Normalmente, preservam-se as commodities, porque o principal objetivo é gerar empregos através da produção de manufaturados. Então, a surpresa aqui é a taxação pesada sobre produtos do México e do Canadá.”
Essa taxação também pode se estender à União Europeia e, possivelmente, ao Brasil.
Inflação mundial e impactos no Brasil
O aumento de tarifas pode gerar inflação mundial. Se todos aumentarem as tarifas, os processos produtivos se tornarão mais caros. O custo de importação de produtos aumentará, e esse custo será repassado para o consumidor final.
A tendência é que os EUA enfrentem inflação interna, o que pode impactar indiretamente o Brasil.
O Brasil pode se beneficiar ou será prejudicado?
“O Brasil não foi atingido diretamente, mas seguramente será atingido indiretamente.
Se México, EUA, Canadá e China aumentam tarifas, no fundo, eles estão aumentando o custo de importação de produtos.
O Brasil poderia se beneficiar se nada acontecesse, mas, seguramente, será atingido indiretamente, porque isso elevará os custos das matérias-primas no mundo. No fim, todos os produtos serão impactados. Infelizmente, o mundo todo será afetado pela elevação das tarifas.”
Como o governo Lula deve agir?
O governo brasileiro, neste momento, deve falar o mínimo possível e esperar para ver os desdobramentos, antes de tomar qualquer decisão ou emitir um parecer.
“O governo deve acompanhar a situação, mas sem emitir parecer pró ou contra. É mais prudente aguardar do que tomar uma decisão precipitada que possa gerar consequências negativas no futuro.”
Se o Brasil for diretamente atingido por tarifas, será necessário analisar o impacto e estudar medidas de retaliação ou reciprocidade.
Brasil pode sofrer concorrência de produtos chineses
Se houver um redirecionamento de produtos, principalmente da China para o Brasil, será preciso monitorar os impactos.
“O câmbio já esteve mais alto e agora está mais baixo. O câmbio por si só já não impede a importação. Aumentar a tarifa pode conter importações, mas sabemos que a China, como economia estatal, pode simplesmente baixar os preços e ganhar espaço no mercado brasileiro.
Assim como com os EUA, o Brasil não tem como se prevenir contra a China, pois a economia chinesa é muito mais competitiva do que a brasileira.
Aumentar tarifas pode ser a medida mais simples, mas não necessariamente terá os efeitos desejados. Precisamos aguardar e acompanhar os desdobramentos.”
Originalmente publicado em Estadão.