Por Carolina Nalin/O Globo em 17/05/2022
Para Brasil, efeito será uma inflação maior agora e um crescimento menor em 2023. Guerra na Ucrânia e alta de juros nos EUA também preocupam
A desaceleração da China, resultado da política de tolerância zero contra a Covid-19, deve afetar também a economia brasileira este ano e no próximo, segundo especialistas. Os dados divulgados na segunda-feira por Pequim indicam retração na segunda maior economia do mundo em abril, e seus principais parceiros comerciais, como o Brasil, não ficarão incólumes.
A produção industrial recuou 2,9% em abril, em comparação ao mesmo mês de 2021. Já as vendas no varejo desabaram 11,1% no período, quase o dobro da queda prevista pelo mercado, que era de 6,6%. Ambos estão no pior patamar desde o início da pandemia. Enquanto isso, a taxa de desemprego atingiu 6,1%.
José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra que a China é o maior comprador mundial de commodities, e, à medida que a demanda chinesa diminui, a tendência é que os preços desses insumos — em patamares elevados devido à guerra na Ucrânia — possam apresentar certo arrefecimento.
Parte desse efeito pode começar a aparecer nas estatísticas de julho, segundo Castro. O preço menos pressionado tende a afetar as exportações brasileiras, o que deve gerar uma balança comercial com superávit menor que o previsto para este ano.
Importações mais caras
Outro impacto sobre a economia brasileira se dará pelas importações. Castro destaca que os preços das importações, em dólares, tiveram aumento de 34,4% em abril e de 29,5% em março. Com os lockdowns na China, importar daquele país fica mais difícil.
A consequência é uma piora dos gargalos logísticos surgidos com a pandemia, num momento em que o custo do frete já está nas alturas e deve subir ainda mais:
— Um produto comprado da China que demoraria 45 dias para chegar poderá demorar 90 dias. Se não tiver contêiner, a mercadoria não sai. E não tem alternativa. Nós podemos comprar insumos da Argentina que podem vir por transporte rodoviário, mas o país é um pequeno fornecedor para o Brasil — explica Castro.
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